Na semana passada, o Copom manteve a taxa Selic inalterada em seu menor patamar histórico, no qual a ela deve permanecer até maio do ano que vem. Diante disso, a pergunta que muitos estão se fazendo é: a renda fixa morreu?
A resposta simples e direta é: não! Mesmo com as taxas de juros baixas ao redor do mundo, essa classe de investimentos continua sendo a classe com o maior volume financeiro alocado. Essa situação deve permanecer nos próximos anos e, tanto lá fora, quanto aqui no país, são diversos os motivos para isso. No conteúdo de hoje, exploraremos um desses motivos: a diversificação de portfólios.
Uma diferença clássica entre investidores profissionais e não profissionais é que os primeiros olham sua carteira de investimentos de forma agregada, balanceando as diferentes classes de investimento de forma a encontrar o risco total da carteira que esteja de acordo com o seu perfil de investidor. Costumeiramente, ativos de renda fixa são adicionados no portfólio para amenizar e/ou tornar mais previsível o seu risco/retorno total.
Os títulos públicos, por exemplo, são uma excelente forma de constituir uma fonte rápida e segura de liquidez. Já títulos de dívida de grandes companhias brasileiras oferecem retornos relevantes sobre os títulos do governo (spread de crédito), sendo uma alternativa para quem não tem perfil para aceitar o risco de mercado das ações mas deseja investir em boas empresas como credor. Assim, o investidor obtém previsibilidade do retorno e preferência sobre os acionistas na hora de receber os recursos gerados pelas atividades da empresa.
Naturalmente, o risco de crédito é preponderante para o investidor que financia um banco ou empresa ao adquirir um título de dívida, e analisar a capacidade de pagamento, especialmente de companhias não financeiras, se torna primordial. E foi justamente a contínua redução do nível de juros no país que permitiu que as empresas melhorassem a sua estrutura de capital – tomando dinheiro emprestado mais barato e com prazo de pagamento mais alongado (através da emissão de debêntures, por exemplo) para investir em suas operações. Assim, elas geraram mais caixa no curto prazo, mitigando o risco de crédito para com seus credores/investidores.
Mas se a taxa de juros baixa proporcionou uma melhora do risco de crédito para as empresas, uma elevação repentina da taxa de juros pioraria a capacidade de financiamento dessas companhias? Nossa visão é que não, e explicamos o porquê.
O recente aumento da incerteza com a questão fiscal do país – dada a expansão da dívida pública com os estímulos bilionários para conter a atual crise e a consequente dificuldade do Tesouro em rolar a dívida pública – traz à tona a discussão sobre o efeito da manutenção da Selic baixa por um longo período. Nosso cenário base é de que o teto de gastos será respeitado e com isso o endividamento da União se manterá em patamares previsíveis, proporcionando que a Selic seja elevada em breve – por outros motivos como uma aceleração da inflação, por exemplo – mas que se mantenha em níveis menores do que na crise de 2015/2016, quando o custo de financiamento no mercado de dívida corporativa era o dobro do atual.
Além disso, as empresas brasileiras contam com uma maior diversificação de fontes de captação e financiamento, bem como uma maior pulverização de classes de investidores, o que confere mais agilidade para ajustes na posição de caixa para enfrentar momentos conturbados como vimos acontecer no primeiro semestre deste ano. Conforme o nível de incertezas se reduza e a atividade econômica ganhe tração, o próprio aumento de geração de caixa operacional passará a ser mais uma fonte de financiamento para essas empresas.
Logo, ao contrário do que se pode pensar, a redução do nível de juros tornou o mercado de capitais- bem como o mercado de renda fixa – mais maduro e robusto. Isso pode ser observado na forte demanda desse tipo de ativo por investidores institucionais (fundos de previdência complementar, seguradoras, family offices, por exemplo), cujo perfil de investimento costuma ser mais conservador. Afinal, poucos são os investidores dispostos a investir todo seu capital em ativos de alto risco, mesmo quando o retorno dos instrumentos atrelados à taxa de juros é relativamente reduzido.