Vivemos tempos de pressões inflacionárias globais, alta de taxas de juros e expectativa de desaceleração da atividade econômica, motivos que, por si só, reduzem a confiança dos consumidores e fazem com que eles posterguem decisões de consumo e investimento. No entanto, no setor de luxo isso parece não estar acontecendo.
Segundo reportagem divulgada pela Bloomberg, houve um salto de 22% nas vendas de moda e artigos de couro da LVMH, dona da Louis Vuitton e da Christian Dior, no último trimestre. Mas por que o mercado de luxo não é afetado pela piora das perspectivas econômicas? O motivo é bastante simples: a inflação afeta famílias de diferentes rendas de maneira diferente.
Por que o impacto da inflação é diferente dependendo da renda?
Para começar, é importante entender o que é inflação. Na prática, a inflação representa o aumento dos preços de produtos e serviços. Ela pode ser calculada através de diversos indicadores, mas, no Brasil, o indicador oficial de inflação é o IPCA.
No entanto, a alta de preços não afeta todas as pessoas da mesma forma, uma vez que a cesta de consumo de cada indivíduo ou família é diferente. Você pode gastar mais com alimentos enquanto o seu vizinho gasta mais com transporte, por exemplo.
Um dos principais fatores que interferem nessa diferença é a renda. Suponhamos que você e seu vizinho ganhem R$10 mil por mês. Você gosta de viajar nos finais de semana, enquanto seu vizinho prefere gastar em restaurantes. Grande parte da renda de vocês é gasta com produtos e serviços diferentes (você gasta mais com viagens e ele mais com restaurantes), o que pode fazer com que a inflação enfrentada por cada um também seja diferente.
Imagine agora Matheus e Joana, cada um ganhando um salário mínimo (R$1.212). Com essa renda, eles dificilmente conseguem consumir mais do que o básico – alimentação, habitação e transporte. Assim, sua inflação será parecida.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 60% da renda de quem ganha menos é gasta com comida. As contas básicas como luz, gás, água e transporte também ocupam a maior parte da cesta de consumo dessas famílias.
Percebe-se que esses itens básicos sofreram grandes variações de preço no último ano – ficando, inclusive, acima do IPCA – e, por isso, afetaram mais a vida dos consumidores de baixa renda. Os de alta renda, por outro lado, foram menos afetados, o que permitiu a manutenção do seu padrão de consumo e de artigos considerados de luxo.
Contribui, ainda, o fato de os menos favorecidos terem seus investimentos aplicados em ativos que não estão protegidos da inflação (como depósitos à vista ou caderneta de poupança), enquanto consumidores de renda mais elevada possuem ativos em suas carteiras que oferecem essa proteção. Por fim, a poupança precaucional criada pelas famílias mais ricas ao longo da pandemia também pode explicar o aumento no consumo de artigos mais caros. Com a reabertura da economia e o avanço da vacinação, não é mais necessário manter esse dinheiro guardado, e ele pode ser convertido em consumo de bens e serviços.
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