No início de 2020, o mundo parou devido a transmissão do novo Coronavírus. Governos de todo o mundo estabeleceram medidas com o objetivo de combater a crescente aceleração no número de infecções – algumas mais restritivas, como lockdowns, e outras menos, como quarentenas ou paralizações de atividades específicas.
O impacto econômico destas medidas foi observado, principalmente, no segundo trimestre do ano passado, com as maiores economias mundiais sofrendo grandes quedas em suas atividades econômicas. Apesar disso, com o avanço da imunização e com a diminuição das restrições no início de 2021, a atividade econômica começou a se recuperar.
Mais recentemente, o número de infecções voltou a aumentar e os novos casos estão relacionados com mutações como a variante Delta, advinda da Índia. Diante deste cenário, o comentário busca apresentar um panorama sobre esta nova onda de infecções e seu impacto nas economias. Conforme veremos, o ambiente é de grande incerteza, o que pode resultar em desaceleração da recuperação da atividade econômica em diversas localidades.
A Delta no exterior
No final do ano passado e no início deste ano, com o início do processo de imunização, os casos de Covid-19 diminuíram em diversas localidades. Como resultado, as restrições se afrouxaram, o que possibilitiou a volta de viagens e de serviços, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Isso implicou em um ambiente onde pessoas de diferentes regiões entraram em contato, e o resultado foi um incremento em números de casos e dominação da variante Delta (indiana) perante outras.
Os maiores impactos podem ser notados nas principais economias mundiais, como Austrália, China, Estados Unidos e Reino Unido. Uma terceira onda está sendo reportada, devido à rápida propagação da cepa indiana, principalmente entre a população não-vacinada, e países como a China e a Austrália anunciaram novas medidas restritivas para combater o surto.
A variante é mais transmissível e também mais grave do que as outras, porém, como pode se observar no gráfico abaixo – com dados do Reino Unido – , a vacinação da população evita o crescimento de hospitalizações de maneira proporcional ao número de novos casos.
Já nos Estados Unidos, observou-se uma recente elevação no número de internações, principalmente nos estados onde a porcentagem da população vacinada é baixa. Nos estados do Alabama e do Texas, por exemplo, grande parte dos leitos foram ocupados e já há filas de esperas. É interessante notar, entretanto, que o aumento do número de casos de pacientes hospitalizados está concentrado mais fortemente em apenas 5 cinco estados – os quais possuem baixa adesão da população à vacinação.
O Brasil e a Delta
No Brasil, que tem como variante predominante a Gama – vinda de Manaus e altamente transmissível -, também existem preocupações com o rápido avanço da variante delta. A cepa indiana já responde por 66% das amostras de casos de coronavírus encontrados no Rio de Janeiro, e o avanço vem acompanhado de uma elevação na ocupação de leitos e lotações de UTIs no estado. Para controlar o surto, o governo tenta acelerar o processo de vacinação fornecendo uma segunda dose de Pfizer para aqueles que tomaram a AstraZeneca como a primeira dose, e chamando populações jovens para a vacinação.
Ainda que seja muito cedo para falar dos efeitos da variante no Brasil, previsões da plataforma Info Tracker apontam para uma “explosão de novos casos” em setembro para as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
O ritmo do processo de vacinação será decisivo no controle do surto previsto, pois, como mostra a figura abaixo, com a aceleração e vacinação da população adulta, o número de novos casos vêm apresentando uma tendência de baixa desde o mês de junho. A continuidade deste processo pode amenizar a gravidade de um possível surto devido à nova cepa.
O comportamento da economiaO impacto da variante Delta na economia ainda é incerto. O presidente do Fed, Jerome Powell, disse, recentemente, que não há certeza se a nova cepa terá efeito sobre a economia americana. Apesar disso, efeitos já são sentidos em países como a China. Por lá, novas restrições foram duramente impostas, contribuindo para fortes quedas no preço de commodities como o petróleo e o minério de ferro.
Questionamentos e incertezas surgem ao passo em que setores da economia desaceleram e medidas mais restritivas são tomadas. Conforme mencionado anteriormente, diversas localidades como China, Austrália e países do sudoeste asiático têm aplicados novas medidas restritivas e isso pode provocar desaceleração da recuperação da atividade econômica.
Os efeitos da variante delta não foram totalmente incorporados à economia e mais tempo pode ser demandado para analisar os seus efeitos, principalmente sobre a oferta, que pode sofrer com problemas semelhantes aos vistos no segundo trimestre do ano passado. Já sobre o impacto inflacionário, o fechamento de portos na China e o novo fechamento de indústrias pode aumentar ainda mais as pressões inflacionárias, principalmente sobre os bens industriais.
Países que apresentam baixa taxa de vacinação, em grande parte os emergentes, podem sofrer ainda mais com gargalos impostos pela alta transmissão da nova cepa, o que poderia implicar em diminuição da atividade econômica e revisões sobre produto e inflação. No caso do Brasil, a situação fiscal – já crítica – deve ficar ainda mais pressionada, caso novas medidas de isolamento social sejam aplicadas e novos auxílios à população mais carente e às empresas sejam necessários.
Considerações finais
Vê-se, portanto, que o impacto da variante delta sobre a economia ainda é prematuro, o que gera incerteza sobre o futuro e o progresso da recuperação da atividade econômica. O progresso do processo de vacinação continua sendo essencial para o controle da pandemia, bem como para a continuidade da retomada da atividade econômica. Apesar do surgimento de novos surtos em diversas localidades, acreditamos que novas medidas de isolamento social – com a mesma intensidade que as observadas no ano passado – devam ficar restritas à alguns países, principalmente aqueles que possuem uma menor porcentagem de sua população vacinada. Isto não impede, entretanto, que a incerteza global permaneça elevada, impactando e provocando volatilidade nos mercados e na recuperação da economia.